Maria de Lurdes, 69

Mura

Homenagem enviada por Márcia Mura


Dona Maria de Lurdes de Oliveira Brandão, 69 anos, faleceu dia 26 de maio de 2020, de Covid-19. Vivia em Nazaré, distrito de Porto Velho, às margens do rio Madeira. Dona Lurdes faz parte da memória ancestral das mulheres amazônicas, desses lagos e rios do nosso território Mura. Trouxe ao mundo a vida de muitas crianças com seu dom de parteira. Quantas vezes eu vi outras pessoas passarem em frente de sua casa pedindo a bênção a ela: “sua bênção, mãe!”. E ela lá, apesar do seu jeito sério, ao final sempre dava sua risada e respondia: “Que Deus abençoe!”.

Além de parteira, também D.Lurdes era guardiã das nossas plantas de cura. No seu quintal, haviam várias plantas medicinais para os nossos remédios. Todos que precisavam de algum tratamento da nossa cultura medicinal iam lá procurar os remédios com ela. D.Lurdes sempre tinha uma planta para fazer o remédio certo. Sempre avistava ela dando suas plantas medicinais as pessoas que precisavam.

Mas, em 2014, com a grande inundação do rio, causada pela construção das hidrelétricas, ela passou a ter que fazer mudas de todas as plantas para salvá-las. Desde então, ano após ano, quando vinha a grande cheia, ela tirava muda por muda, planta por planta, e colocavam todas num lugar alto. Quando a água descia, ela replantava tudo novamente no seu quintal.

D. Lurdes era umas das mulheres mais velhas e como grande matriarca que foi, cultivou vários laços afetivos, fortaleceu nossos vínculos territoriais e com a vida. Ela nos deixou seus conhecimentos. E sua memória vai se manter viva por meio das nossas práticas. Seus remédios foram repassados não somente para sua família, mas para todas as mulheres que tiveram oportunidade de trocar algum conhecimento com ela. Eu, Márcia Mura, fui uma dessas mulheres. Felizmente pude vivenciar algumas experiências de saberes e de sabores da nossa cultura junto a ela e sei que dona Lurdes vai se manter viva em nossas memórias.

“Dona Lurdes era nossa anciã, guardiã dos conhecimentos tradicionais. Era a mãe Lurdes. Eu moro ao lado da casa dela. Independente de sermos ou não da família, nós construímos relações afetivas e de parentesco. Somos todos parentes. A perda dela foi muito forte para todos nós de Nazaré. E como não foi possível fazer o funeral e sepultá-la às margens do lago do Peixe Boi, fizemos uma live de celebração da passagem dela. Pois ela não podia ficar sem um ritual de passagem e as pessoas da comunidade participaram, falando da importância dela para cada um e coletivamente.”

(Palavras de Márcia Mura ao enviar a homenagem de D.Lurdes para Aline Corrêa)

FONTES

Foto em Destaque: Márcia Mura

Fotos da Galeria: Márcia Mura

Texto da homenagem e fotos por Márcia Mura.

Zé Yté Kayapó, 88

Kayapó

Adeus a Zé Yté Kayapó – Link da homenagem enviada por Márcio Meira


Em muitos cantos dessa grande Amazônia e no seio de diversos povos indígenas e comunidades tradicionais, lideranças e guardiões de conhecimentos ancestrais estão sendo vitimados pela Covid-19. Avós dos povos Tikuna, Kambeba, Tukano, Munduruku, Ka’apor, Murui, Xikrin, Arapium, Yanomami, Guajajara, entre muitos outros, lutaram com garra, como sempre fizeram, pela sua vida.

Infelizmente o nosso querido Zé Yté Kayapó, da aldeia Gorotire, se foi na noite do dia 02 de junho de 2020, aos 88 anos. Também conhecido e citado por alguns pesquisadores como José Uté, foi um dos principais colaboradores dos estudos etnobiológicos conduzidos por Darrell Posey e seus colegas no contexto do “Projeto Kayapó”, juntamente com Beptopup (já falecido), Kapraponh (hoje com 73 anos) e outros indígenas, proporcionou os conhecimentos que auxiliaram os cientistas na compreensão de como os Mebêngôkre-Kayapó manejam os ambientes de floresta e cerrado, de onde obtêm recursos diversos. Zé Yté e todos os indígenas que contribuíram com seus conhecimentos às pesquisas antropológicas e etnobiológicas, na década de 1980, deram visibilidade ao importante papel dos saberes locais para a conservação da biodiversidade, ao mesmo tempo em que suas lutas, fundamentadas na importância do território para a vida do seu povo, contribuíram para criar uma consciência política que guiou as agendas socioambientais em diversos cantos da Amazônia. Uma das grandes preocupações de Zé Yté era com a preservação destes saberes entre os mais jovens. Nos últimos anos, ele e outras lideranças vinham se dedicando em conseguir apoio para novas ações de pesquisa sobre plantas medicinais e alimentícias nos seus territórios, com o intuito de melhorar o acesso aos recursos medicinais da flora local pelos wayanga (pajés) e especialistas em cuidados tradicionais em saúde e pelos moradores das aldeias, desafio imprescindível para a saúde e a soberania alimentar dos Mebêngôkre-Kayapó.

Tivemos o privilégio de contar com a presença de Zé Yté no Museu Goeldi, em agosto de 2018, quando foi convidado a participar no XVI Congresso Internacional de Etnobiologia, também conhecido como “Belém + 30”, evento que evocou os 30 anos da realização do Primeiro Congresso Internacional de Etnobiologia, realizado em Belém em 1988 e organizado pelo antropólogo e etnobiólogo Darrell Posey e a equipe de colaboradores e no qual os Kayapó tiveram papel protagonizante. No “Belém + 30”, Zé Yté, ao lado de grandes lideranças mebêngôkre como Raoni (Rop ni), Tuire, Paulinho Pajakanh e Megaron, nos prestigiaram com a sua presença e a sua palavra, evocando a Posey, conhecido pelo apelido Jajrâti. Nessa ocasião, a exposição “Os Kayapó e Jairâti. Saberes e lutas compartilhadas” foi uma forma de homenagear a existência, os saberes e lutas mebêngôkre e as já centenárias relações entre o povo Kayapó e o Museu Goeldi.

Em nome da equipe do projeto de pesquisa “Saúde e Soberania alimentar Mebêngôkre-Kayapó: conhecimentos, práticas e inovações”, queremos fazer uma homenagem póstuma ao querido Zé Yté e expressamos nossos sentimentos de pesar a toda a sua família e ao povo Mebêngokre-Kayapó por esta irreparável perda.

Boa viagem, Zé Yté. Continue cuidando do seu povo nos confins do pluriverso!

 

Projeto de Pesquisa Saúde e soberania alimentar Mebêngôkre-Kayapó

FONTES
Foto de Destaque: Ádria Reis (via Museu Goeldi)
Fotos da Galeria: Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE); Ádria Reis (via Museu Goeldi)

Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE)
https://www.etnobiologia.org/single-post/2020/06/10/Adeus-a-Z%C3%A9-Yt%C3%A9-Kayap%C3%B3

Museu Paraense Emílio Goeldi
https://www.museu-goeldi.br/noticias/adeus-a-ze-yte-kayapo/view

Link da homenagem enviada por: Márcio Meira

Amélia Huanaquiri, 89

Huanaquiri

Amélia Huanaquiri nasceu em 1931, em San Joaquín de Omaguas, em uma comunidade indígena às margens do rio Amazonas, entre Nauta e Iquitos. Por muitos anos, ela foi constrangida a não falar omagua, o idioma que aprendeu com seus avós. Seu marido, especialista em caçar “sajinos”, costumava advertir quando a ouvia falar a língua: “_ Não fale assim, eu disse, eles vão tirar sarro de você!”. Os dois deixaram San Joaquín – a cidade onde cruzaram os olhos pela primeira vez – e foram morar em Iquitos com seus filhos. Desde então, em público, Amélia permanecia calada em omagua e muito eloquente em espanhol, mas secretamente continava falando com si mesma como faziam seus ancestrais. Sua memória manteve viva as histórias que seus avós lhe contavam quando criança: histórias sobre mundos cheios de “tunches”, plantas que curavam a tosse e a varíola, demônios de rios que roubam o espírito dos homens.

Recentemente, aos quase noventa anos, um grupo de linguistas procurou Amélia com um pedido incomum, queriam escutar aquela língua que, por tanto tempo, ela havia sido aconselhada a esquecer. Amélia não sabia, mas as palavras que aprendera quando criança estavam morrendo e apenas ela, e outras três ou quatro pessoas, guardavam este saber na terra.

As pessoas, vindas de longe, escutavam Amélia como mestra, mas para ela, falar sobre sua vida e comunidade, era simples e significava reencontrar com suas lembranças. Ela podia passar horas contando as piadas de suas tias omaguas ou explicando um termo de que não tinha tradução exata em espanhol, como “aisɪkapashiru” (pessoa muito feia), “asɨrɨka” (descer pelo rio) ou “amiastaka saʃimay” (uma dor insuportável). Assim ela passou os últimos meses de sua vida gentilmente emprestando as suas memórias à especialistas dedicados a sistematizar o alfabeto omagua. Com sua serenidade imperturbável, Amélia protegeu não apenas dezessete letras de uma língua, mas também a memória de um povo inteiro.

Embora muitos a vissem como a grande sábia de uma cultura, em casa ela era a avó que rezava de joelhos todos os dias às cinco da tarde, que caminhava horas pelas ruas de Iquitos para visitar seus sobrinhos, que cozinhavam patarashcas, mazamorras de banana com mandioca e sua bebida favorita “el chapo de la Selva”. “Ela era tão ativa que todos pensávamos que ela viveria mais de cem anos”, lembra Zoila Huanaquiri, sua sobrinha mais próxima. Uma das últimas vezes que viu sua tia, Amelia ensinou-lhe uma palavra em omagua, “Yatɨma (enterro)”, disse ela, e acrescentou em voz baixa, como se dissesse um segredo:  “_Quando eu partir, quero ser enterrada na minha cidade e com meus avós.”.

Faleceu no dia 10 de maio de 2020, junto da sua irmã e seu filho mais novo, que morreram dias antes, todos com sintomas da COVID-19.

 

Relato enviado por Carlos Huanaquiri Gongora e sua família, traduzido e organizado por Érica Dumont.

FONTES

Foto de Destaque: Reprodução// Loreto Informa News

Fotos da Galeria: Reprodução// Loreto Informa News; Zachary O’Hagan

Colaboração: Érica Dumont / Enfermagem e FIEI – FaE, UFMG – Belo Horizonte/MG.

Aniceto Negedeka, 76

Muinane

Aniceto Negedeka (1946-2020) pajé do povo Muinane. Falante de muinane, sua língua paterna, e de outras línguas da família witoto como uitoto-mɨnɨka, o bora e também o espanhol. Seu nome em muiname, “Numéyɨ” ou “Nume”, significava “Coco Pequeno” sendo ele o mais velho da linhagem “Ɨjɨmɨjo” do clã “Néjegaimɨjo” (pessoas de Sombra de Coco de Cumare do clã Gente de Centro).

Seu pai e sua mãe foram sobreviventes do holocausto da borracha, terror exercido pelos seringalistas da “Casa Arana” e Nume viveu em diferentes comunidades, como La Sabana (Rio Cahuinarí), em La Chorrera e Providencia (Rio Igará-Paraná), nas comunidades de Villa Azul e Chukikɨ (Rio Caquetá) e em Leticia. Sua geração foi forçada a assistir aos internatos de missionários católicos, de diferentes denominações cristãs. Desses, lembrava se da solidão e do medo que sentia, contrapostos pelo carinho de uma freira que o cuidou de forma amorosa. Conheceu bem essas diversas tradições e chegou a se desempenhar como catequista.

O conhecimento de mitos, rituais, conselhos e detalhes cosmológicos da “Gente de Centro”, era também reconhecido nessas comunidades. Referentes a eles, Nume herdara de sua família o direito e a responsabilidade de levar a cabo os rituais de dança da guerra, chamados “Ámoka”. Rituais capazes de, dentre outras funções, identificar a maldade e as emoções destrutivas que pudessem afetar seu povo, e transformá-las em alimentos.

Para os antropólogos que trabalhamos com ele, Nume destacava-se pela doçura e bons tratos, e pela obsessão, francamente acadêmica, em escrever em muinane. Investiu anos escrevendo mitos e conselhos, convertendo-se em alguém que fazia uso prático e constante de um alfabeto desenhado pelos missionários do Instituto Linguístico de Verão (SIL), adaptado por ele às suas necessidades, às vezes com a colaboração de linguistas e antropólogos.

Em 2017 recebeu o prêmio nacional do Ministério da Cultura da Colômbia como “reconhecimento à dedicação do enriquecimento da cultura ancestral dos povos indígenas da Colômbia pelo pensamento maior”. O seu “Libro de las Aves” é um documento belo e inestimável, como são também várias publicações bilíngues muinane-espanhol. Faleceu no dia 8 de junho em Letícia, Amazonas, Colômbia, em sua Maloca, construída recentemente por seus filhos (2019), vítima da Covid-19.

 

Texto: Carlos David Londoño

Tradução: Harold Mauricio Nieto

FONTES

Foto em Destaque: Reprodução// SALSA

Fotos da Galeria: Enviadas pelos filhos de Aniceto – Daianara Martinez, Gory Hernando e Luzma Negedeka; Las Aves Cuentan Consejos y Ensenanza.

Society for Anthropology of Lowland South America (SALSA)
https://www.salsa-tipiti.org/covid-19/inmemoriam/fallecio-aniceto-negedeka-mayor-de-la-etnia-feenem%c9%a8naa-muinane-6-8-20/

Colaboração: Harold Mauricio (Antropologia – Valencia/ Colombia)

Laureano Cordeiro

Waikhana

Laureano Cordeiro foi um importante mestre do povo Waikhana (Pira-Tapuia), grupo indígena falante de língua da família Tukano. Vivia na comunidade Pohsaya Pitó (São Gabriel) à beira do rio Papuri, integrante da bacia do rio Uaupés, no noroeste da Amazônia brasileira.

Era um benzedor (kumu) reconhecido e grande conhecedor das histórias e dos conhecimentos ancestrais de seu povo. Preocupava-se em compartilhar esses saberes com as novas gerações, com propósito de um bom futuro para as culturas Waikhana e dos demais povos do Alto Rio Negro. Foi um dos protagonistas das expedições no Cobra-canoa pelos rios Negro e Uaupés que deram origem ao filme-documentário “Pelas Águas do Rio de Leite”. Faleceu no dia 22 de maio de 2020 na cidade de Manaus, onde se encontrava em tratamento da Covid-19.

FONTES

Foto de Destaque: Reprodução//Facebook – Pelas Águas do Rio de Leite (Vincent Carelli)

Fotos da Galeria: Reprodução//Facebook – Pelas Águas do Rio de Leite (Vincent Carelli) e Aline Scolfaro

Pelas Águas do Rio de Leite
https://www.facebook.com/pelasaguasdoriodeleite/posts/3132553383457001

Filme Pelas Águas do Rio de Leite (vídeo)
https://www.youtube.com/watch?v=CirpI_a_FJI

Monografia de Aline Scolfaro Caetano da Silva
https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/212

Geografia Indígena e Lugares Sagrados no Rio Negro – Aline Scolfaro
http://www.rau.ufscar.br/wp-content/uploads/2015/06/vol6no1_11_escofaro2.pdf

Puraké, 67

Asurini

O cacique Puraké Asurini, habitante da aldeia Trocará (TI Trocará), localizada a 18 km da cidade de Tucuruí (PA), faleceu no dia 24 de maio de 2020 pela Covid-19. Três dias antes, Purake tinha perdido sua esposa (Ponakatu) e sua irmã (Iranoa Asurini), vitimas da mesma doença. Todos eles pertencem ao povo Asurini do Tocantins, também chamado Asuriní do Trocará, ou Akuáwa-Asuriní.

Os relatos mais antigos contam que esse povo vivia, até o início do século XX, no rio Xingu, junto com o povo Parakanã. Depois os Asurini migraram para a bacia do rio Tocantins, quando foram contados pelos funcionários do SPI em 1953. A população era estimada na época em torno de 190 pessoas, mas vários conflitos com os não-indígenas e doenças reduziram-na, em 1962, a 35 pessoas. Em 2014, segundo dados da SESAI, a população tinha voltado a crescer para 546 pessoas.

O Professor Peppe Asurini assim nos dá a triste notícia da morte do cacique Purake e sua irmã Iranoa: “Eu Waremoa Asurini, o popular professor Peppe, venho através deste informar o falecimento daqueles que em vidas se chamaram cacique Puraké Asurini e Iranoa Asurini, carinhosamente chamada de dona Luzia, ambos irmãos, ocorrido ontem entre 22:00 as 23:00 horas da noite. Seu Puraké se encontrava no HRT e dona Luzia estava internada na UPA aguardando leito. A comunidade Asurini lamenta muito dessas duas perdas imensuráveis que ficaram em nossas memórias. Uma enciclopédia viva de conhecimentos tradicionais históricos e milenares do povo Asurini que se fecha e vai para a biblioteca divina. Eu, enquanto filho do cacique Puraké Asurini, fico muito abalado e muito triste com tudo isso que está acontecendo, até porque no dia 22 perdi minha mãe, dia 23, o cacique Sakamiramé, e ontem, dia 24, perdi meu pai. Então isso é muito doloroso para mim”.

FONTES

Foto de Destaque: Reprodução Gazeta do Pará

Fotos da Galeria: Acervo do grupo de pesquisa HELRA CNPq e QUIMOHRENA CNPq; Instituto SocioAmbiental (via Museu Virtual Tucuruí); Conexão Jornalismo.

Conexão Jornalismo
http://www.conexaojornalismo.com.br/noticias/entrevista-exclusiva-com-o-cacique-purake,-finalmente-libertado-no-para-ouca-1-40119?fbclid=IwAR0icsnjZE_-6KFlmKqXS2iXh2pR_kkQ_KbeM1lbNdh1r26ia8jPdbWPaI8


Gazeta do Pará

https://www.facebook.com/gazetapara/photos/a.1670005579978429/2506597782985867/

Museu Virtual Tucuruí
https://bityli.com/9dPzO

Outras Fontes Utilizadas

Instituto Socioambiental: http://bit.ly/3gC5z4k

Nova Cartografia Social da Amazônia: http://bit.ly/2yPFTjG

Iranoa Asurini, 64

Asurini

No dia 24 de maio de 2020, morreu Iranoa Asurini, conhecida carinhosamente como Dona Luiza. No mesmo dia, também faleceu seu irmão, o cacique Porake. 

A linguística AnaSuelly Arruda, estudiosa da língua e cultura de vários povos indígenas, assim se manifestou numa rede social: “Os Asurini estão indo embora! Quanta dor! Meus amados amigos!” Quem são eles? Responde a uma pergunta na mensagem, AnaSuelly: “Asurini do Trocará ou Tocantins é “UM POVO INDIGENA” Tupi-Guarani que vive em uma Terra Indígena localizada à margem esquerda do Rio Tocantins, a 18 quilômetros da cidade de Tucuruí. Vivem na menor Terra Indígena do Pará e foram esmagados pela Hidroelétrica de Tucuruí. É um povo lindo, de uma história milenar riquíssima. Os velhos que estão sendo vítimas do mal da atualidade são os conhecedores do tesouro Asurini: sua cultura e sua língua.” Na mesma rede social, a amiga Pilar Valenzuela se solidariza com AnaSuelly, dizendo que sua mensagem lhe parte o coração: “Es una verdadera tragedia perder tantos hermanos Asurini. Qué tristeza. En Perú la situación también es grave. Han fallecido 60 Shipibo y vemos que el covid sigue avanzando hacia más territorios indigenas. Un abrazo fuerte. Tristísima situación”.

Por meio do verbete “Asurini do Tocantins” do PIB/ISA, escrito por Lúcia Andrade da CPI/SP, podemos saber mais sobre a Terra Indígena Trocará. Ela é atravessada em toda a sua largura pela PA-156 que divide a área em duas partes. A aldeia e o posto da Funai ficam a leste da estrada, na porção banhada pelo Rio Tocantins. A parte situada a oeste é um retângulo de matas que constituem uma das últimas florestas virgens de certa proporção na região. A TI Trocará está encravada na região do Projeto Grande Carajás, que abrange o Estado do Maranhão e partes do Pará e Tocantins. Este imenso programa de exploração minero-metalúrgica, que consiste numa série de obras de infraestrutura (como a hidrelétrica de Tucuruí e a ferrovia que liga a Serra dos Carajás à São Luís), vem provocando mudanças radicais em toda a estrutura sócio-econômica da região habitada pelos Asurini.

FONTES

Foto em Destaque: Edgar Kanaykõ (Instagram: @edgarkanayko)

Foto da Galeria: Edgar Kanaykõ (Instagram: @edgarkanayko)

Instituto Sociambiental (ISA)
http://bit.ly/3gC5z4k

COIAB
http://bit.ly/2TSb4Sx

Adolescente Yanomami, 15

Yanomami

Um adolescente de 15 anos, do povo Yanomami, faleceu na cidade de Boa Vista (RR), no dia 09 de abril de 2020. Ele morava numa aldeia às margens do rio Uraricoera, região de entrada para parte dos milhares (estimados em 25 mil) de garimpeiros ilegais que, hoje, exploram ouro dentro da Terra Indígena Yanomami (AM/RR). Segundo a agência de notícia “Folha de São Paulo”, o jovem indígena estava nesta região quando seu estado de saúde piorou e ele foi transferido para a capital Boa Vista.

Esse caso aumentou a apreensão dos Yanomami. Entre os anos de 1960 e 1980, sua terra foi massivamente invadida por garimpeiros, o que resultou na morte de cerca de 15% da população indígena, sobretudo em decorrência de doenças como o sarampo. Essa tragédia foi contatada no livro “A queda do Céu”, de Bruce Albert e David Kopenawa.

Atualmente, com o preço do ouro em alta e a promessa do presidente Jair Bolsonaro de legalizar o garimpo dentro de terras indígenas, a invasão do território yanomami voltou a crescer assustadoramente!

Pela agência de notícias “Amazônia Real” ficamos sabendo que o adolescente yanomami vítima da Covid-19 nasceu na Comunidade de Helepe, na Terra Indígena Yanomami, em 02 de março de 2005. Ele estudava o ensino fundamental em uma escola da Comunidade Boqueirão, na Terra Indígena Boqueirão, dos povos Macuxi e Wapichana, no município de Alta Alegre, no norte de Roraima.

Ainda segundo a “Amazônia Real”, o adolescente passou 21 dias com os sintomas da doença, buscando por atendimento de saúde e não foi submetido no início da doença ao teste para Covid-19. Ele chegou a receber alta do Hospital Geral de Roraima. As internações aconteceram no período de 18 de março a 3 de abril e demostraram uma imensa fragilidade no sistema da saúde indígena. O diagnóstico da doença Covid-19 só foi confirmado no estudante yanomami no último dia 7 de abril, dois dias antes de sua morte.

Foto em Destaque: Edgar Kanaykõ (Instagram: @edgarkanayko)

Fontes
Amazônia Real: http://bit.ly/2M30fbYO  
Folha de São Paulo: http://bit.ly/36zf7YY 

Antonio Bolívar, 76

Ocaina

O ator colombiano Antonio Bolívar faleceu vítima da Covid-19 aos 76 anos de idade, no dia 01 de maio de 2020, na cidade de Letícia, Colômbia, fronteira com Brasil e Peru. Ele nasceu na região colombiana de La Chorrera, banhada pelo rio Putumayo, habitada por povos indígenas de língua uitoto que foram assolados durante o ciclo extrativista da borracha nas primeiras décadas do século XX. Antonio ficou conhecido mundialmente através do filme “O Abraço da Serpente”, indicado ao Oscar em 2016 na categoria Melhor Filme Estrangeiro.

Em “O Abraço da Serpente” Antonio Bolívar interpretou Karamatake, último sobrevivente do povo Ocaina e encarregado de guiar o etnobotânico Richard Evans pela selva em busca da yakruna, planta sagrada que lhe daria a capacidade de sonhar: um personagem que representa a sabedoria e os conhecimentos ancestrais indígenas.

Antonio Bolívar frequentou a escola de comunicação indígena em Letícia como estudante e como ancião tradicional; em 2019 formou-se comunicador indígena comunitário.  

 

Texto* del homenaje enviado por el antropólogo e investigador Nicolas Victorino del Grupo de Estudios Transfronterizos (GET)Leticia, no dia 1 de Mayo de 2020.


La noche del 30 de Abril de este año 2020 falleció el abuelo Antonio Bolívar. Don Antonio, indígena de Pueblo Ocaina tenía 75 años y era descendiente de los pueblos de la región de La Chorrera, lugar de su nacimiento, en el interfluvio Putumayo – Caquetá, departamento de Amazonas, Colombia. Esta región es recordada por el proceso de resistencia histórica que movilizo a la totalidad de población indígena frente a la cauchería a inicios del siglo XX,  especialmente por los violentos hechos sucedidos en la Casa Arana, fundada en la misma Chorrera durante el periodo de explotación del caucho, y de la cual los pueblos indígenas Ocaina, Murui, Bora, Miraña, Andoque fueron directamente victimizados.

A Don Bolívar lo conocí en el año de 2005, en la maloca de los curanderos William e Isabel  en la comunidad Jittoma en la vía Leticia – Tarapacá. El hacía parte de los mayores tradicionales que mantienen un sistema de relaciones entre malocas de distintos pueblos indígenas que han migrado hacia las cercanías de Leticia, durante los últimos cincuenta años por distintas causas, destacándose los efectos del conflicto armado colombiano, y se han constituido  en el resguardo indígena Ticuna – Uitoto, en el municipio de Leticia.

Don Antonio fue mundialmente conocido, durante los últimos años, por su papel de “Karamatake”  protagonista en la película “el Abrazo de la Serpiente”, la cual fue nominada al premio Oscar en el año 2016 en la categoría de mejor película extranjera.  El éxito obtenido por la película y particularmente  don Antonio como actor, se consolido posteriormente, cuando volvería a actuar en la mini serie de televisión  “Frontera Verde”  producida por Ciro Guerra (Director también del famoso filme)  para la multinacional de entretenimiento Netflix. Actualmente era miembro de la Escuela Indígena de Comunicaciones de la Amazonía Ka+ Jana Uai y participaba en otros proyectos culturales indígenas del municipio.

La visibilidad como figura  icónica  de “ultimo chaman” o “guardián de selva “que logró el personaje interpretado por don Antonio, en gran parte promovida por un exotismo comercial generado por los medios masivos de comunicación,  contrastaba con la tranquilidad de un hombre de conocimiento, heredero de luchas indígenas y con la fuerza alegre de humanidad que emitía su presencia en distintos escenarios locales en los que habitualmente era invitado debido esa figura de icono indígena.

A pesar de que don Antonio no estuvo vinculado directamente a los procesos organizativos indígenas, si se manifestaba continuamente exigiendo el mejoramiento de las condiciones básicas de vida de los pueblos indígenas que viven en las actuales ciudades amazónicas como Leticia.

En el año 2018 había sufrido un accidente por caer de una palma al recolectar frutos de asai, lo que había  deteriorado su salud. El año pasado, compartí con él por última vez en la calles de Leticia, junto con Don Antonio, participamos de las masivas movilizaciones y marchas que a nivel nacional se realizaron en el mes de octubre de 2019, contra las nefastas políticas sociales del actual gobierno colombiano. Ese día nos despedimos con una voz de lucha y esperanza colectiva, junto a estudiantes y trabajadores del sector público en el parque Santander frente a la Gobernación del Amazonas, en el centro de Leticia.

Hoy, primero de mayo, el testimonio, en radio local, de su compañera Celia, no confirmaba que la muerte de Don Antonio hubiera sido a causa de infección por el virus covid19. Según Celia, el abuelo Antonio tenía síntomas de neumonía, la cual persistía en él durante el último año, por lo que había sido internado en el hospital de Leticia, donde finalmente murió, y aunque los médicos dictaminaron que su muerte fue a causa del virus Covid 19,  la escasez de pruebas disponibles no permitieron confirmar su infección. Esto es reflejo del difícil panorama que se presentará durante los siguientes días y semanas, en el cual los principales afectados serán los pueblos indígenas.

Descanso y honra para el abuelo Ocaina Antonio Bolívar.

(Leticia, mayo 1 de 2020.)

*Colaboração: O envio do texto foi através do Pedro Rapozo (Sociologia, NESAM/UEA – Manaus e Tabatinga/AM)

FONTES

Foto em Destaque: Cena do filme “O Abraço da Serpente” (O Globo)

Fotos da Galeria: Entertainment Times; Green Frontier (Film); IMDb; Cinema Tropical; Estrela Latina

Cinema Tropical
https://www.cinematropical.com/cinema-tropical/embrace-of-the-serpent-protagonist-antonio-bolvar-dies-at-75-of-coronavirus

IMDb
https://www.imdb.com/title/tt9641192/mediaviewer/rm1296011265

Estrela Latina
https://estrelalatina.com.br/aos-75-anos-morre-por-coronavirus-antonio-bolivar-ator-de-o-abraco-da-serpente-filme-indicado-ao-oscar/

Entertainment Times
https://timesofindia.indiatimes.com/entertainment/english/hollywood/news/covid-19-antonio-bolivar-best-known-for-embrace-of-the-serpent-dies-aged-72/articleshow/75576765.cms

Jader Paes (Pinterest)
https://br.pinterest.com/pin/73253931428047048/

Servícios en Comuicación intercultural (SERVINDI)
https://url.gratis/0u7Wx

Entrevista com Antonio Bolívar (vídeo)
http://youtube.com/watch?v=jN96WQYOWu8

The Economist
https://www.economist.com/obituary/2020/05/28/antonio-bolivar-died-on-april-30th

O Globo
https://oglobo.globo.com/mundo/pandemia-do-coronavirus-invade-amazonia-colombiana-pela-fronteira-com-brasil-24412953

Colaboração: Pedro Rapozo (Sociologia, NESAM/UEA – Manaus e Tabatinga/AM)