Homenagem (biografia) escrita por Aldenor Matsimy, Bernardo Silva e Marina Paixão (Memorial Vagalumes).
Filomena Zukmy Rikbaktsá, ou Filó como era conhecida por seus parentes, foi uma importante pessoa para a Aldeia Pé de Mutum e para a luta pelos povos indígenas. Segundo seus parentes, era uma mulher guerreira e acolhedora, conhecida e reconhecida por atuar na saúde indígena, tratando dos doentes e servindo principalmente como parteira da região.
A Aldeia Pé de Mutum, onde morava Filomena, se localiza na Terra Indígena (T.I.) Japuíra, no município de Juara, no noroeste do Mato Grosso. Esta terra, somada a T.I. Erikpatsa e a T.I. do Escondido, ambas homologadas e regularizadas pelo Estado, constituem a área da bacia do rio Juruena na qual vive o povo Rikbaktsa. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA, 2021), originalmente, o território espraiava-se “pela bacia do rio Juruena, desde a barra do rio Papagaio, ao sul, até quase o Salto Augusto no alto Tapajós, ao norte; a oeste expandia-se em direção ao rio Aripuanã e a leste até o rio Arinos, na altura do rio dos Peixes.”
Este território foi alvo da ação brutal de seringueiros no final da década de 1940 até 1962, quando os os Rikbaktsa, famosos por seu ethos guerreiro, opuseram resistência armada aos invasores de suas terras. Logo após esse contexto, vivenciaram ações catequizadoras por parte de jesuítas e sofreram com epidemias de gripe, sarampo e varíola, que dizimaram 75% de uma população calculada em cerca de 1.300 pessoas (ISA, 2021).
Filomena estava internada há mais de 30 dias, lutando intensamente contra o vírus da Covid-19, quando veio a óbito no dia 29/08/2020. Diante dessa enorme perda, a Associação Indígena de Mulheres Rikbaktsa prestou homenagem nas redes sociais, seguida de comentários de parentes e amigos, que para sempre manterão Filó em suas memórias.
A Associação Indígena de Mulheres Rikbaktsa, registrou:
“A Associação Indígena de Mulheres Rikbaktsa lamenta o falecimento de uma das ícones na luta pelos povos indígena. Filomena Zukmy Rikbaktatsa veio a óbito no dia 29/08/2020 após uma intensa batalha pela vida, com mais de 30 dias de internação hospitalar. Filomena era moradora da Aldeia Pé de Mutum, onde atuou por décadas na saúde indígena.
Sua falta será sentida, mas a sua presença jamais será esquecida.
Siga em paz Filó, para a aldeia do céu, o lugar dos justos e puros de coração!
Sua honestidade, dedicação e amor às causas indígenas serão sempre um exemplo.
(30 de agosto de 2020)”
Aldenor Matsimy, genro de Filomena, reviveu suas memórias e contou um pouco sobre ela através de algumas mensagens trocadas com o Memorial. Segundo ele, Filó era uma mulher guerreira, que deixou muitas histórias. Foi mãe e pai para sua esposa. Era uma mulher parteira que ajudava na comunidade, uma mulher acolhedora, que, não importava se ela conhecia ou não, ajudava todo mundo na sua casa, lembra. “Índio, não índio, ela levava pra sua casa e sempre que precisavam, ela estava pronta para ajudar. Eu admirava ela, ela foi minha sogra que me ajudou muito. Hoje deixou saudades na nossa vida…” (Aldenor Matsimy, 2022)
Bernardo Silva, parente de outra aldeia Rikbaktsa, mas que hoje mora na cidade de Cuiabá, também fez voltar à vida a presença de Filomena e disse algumas palavras sobre ela por ligação telefônica conosco. Bernardo lembra de suas viagens e visitas para a aldeia quando encontrava com Filó: uma pessoa alegre, desprovida de tudo, “coisa de índio, mesmo”. Ela gostava de viver e fazer os outros viverem e vivia uma vida na simplicidade da alma, conta Bernardo ao lamentar o falecimento de um dos pilares da saúde indígena que “perdeu um braço e uma perna do povo da região”.
Filomena ficará para sempre na memória daqueles e daquelas que tanto a admiravam. Seu legado como parteira valiosa na saúde indígena continuará a inspirar a luta do povo Rikbaktsa.
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Fontes:
https://www.facebook.com/aimurik.rikbaktsa.14
https://www.facebook.com/aimurik.rikbaktsa.14/posts/165181975181327