Aniceto Negedeka, 76

Muinane

Aniceto Negedeka (1946-2020) pajé do povo Muinane. Falante de muinane, sua língua paterna, e de outras línguas da família witoto como uitoto-mɨnɨka, o bora e também o espanhol. Seu nome em muiname, “Numéyɨ” ou “Nume”, significava “Coco Pequeno” sendo ele o mais velho da linhagem “Ɨjɨmɨjo” do clã “Néjegaimɨjo” (pessoas de Sombra de Coco de Cumare do clã Gente de Centro).

Seu pai e sua mãe foram sobreviventes do holocausto da borracha, terror exercido pelos seringalistas da “Casa Arana” e Nume viveu em diferentes comunidades, como La Sabana (Rio Cahuinarí), em La Chorrera e Providencia (Rio Igará-Paraná), nas comunidades de Villa Azul e Chukikɨ (Rio Caquetá) e em Leticia. Sua geração foi forçada a assistir aos internatos de missionários católicos, de diferentes denominações cristãs. Desses, lembrava se da solidão e do medo que sentia, contrapostos pelo carinho de uma freira que o cuidou de forma amorosa. Conheceu bem essas diversas tradições e chegou a se desempenhar como catequista.

O conhecimento de mitos, rituais, conselhos e detalhes cosmológicos da “Gente de Centro”, era também reconhecido nessas comunidades. Referentes a eles, Nume herdara de sua família o direito e a responsabilidade de levar a cabo os rituais de dança da guerra, chamados “Ámoka”. Rituais capazes de, dentre outras funções, identificar a maldade e as emoções destrutivas que pudessem afetar seu povo, e transformá-las em alimentos.

Para os antropólogos que trabalhamos com ele, Nume destacava-se pela doçura e bons tratos, e pela obsessão, francamente acadêmica, em escrever em muinane. Investiu anos escrevendo mitos e conselhos, convertendo-se em alguém que fazia uso prático e constante de um alfabeto desenhado pelos missionários do Instituto Linguístico de Verão (SIL), adaptado por ele às suas necessidades, às vezes com a colaboração de linguistas e antropólogos.

Em 2017 recebeu o prêmio nacional do Ministério da Cultura da Colômbia como “reconhecimento à dedicação do enriquecimento da cultura ancestral dos povos indígenas da Colômbia pelo pensamento maior”. O seu “Libro de las Aves” é um documento belo e inestimável, como são também várias publicações bilíngues muinane-espanhol. Faleceu no dia 8 de junho em Letícia, Amazonas, Colômbia, em sua Maloca, construída recentemente por seus filhos (2019), vítima da Covid-19.

 

Texto: Carlos David Londoño

Tradução: Harold Mauricio Nieto

FONTES

Foto em Destaque: Reprodução// SALSA

Fotos da Galeria: Enviadas pelos filhos de Aniceto – Daianara Martinez, Gory Hernando e Luzma Negedeka; Las Aves Cuentan Consejos y Ensenanza.

Society for Anthropology of Lowland South America (SALSA)
https://www.salsa-tipiti.org/covid-19/inmemoriam/fallecio-aniceto-negedeka-mayor-de-la-etnia-feenem%c9%a8naa-muinane-6-8-20/

Colaboração: Harold Mauricio (Antropologia – Valencia/ Colombia)